Pauline Dubois e Slin Ribeiro, os "maestros" da MUG 2013 |
Jean Bart, Carnaval,
pesca, ocupação holandesa, inglesa e espanhola... A MUG arrasou com seu enredo sobre
Dunkerque. A cidade coirmã de Vitoria, localizada no norte de França, na região
flamenga, é pouco conhecida no Brasil, tanto como Vitória é mal conhecida na
França. Porém, a cidade francesa tem o maior Carnaval da França, com mais de
200.000 foliões. Cordões, bailes e blocos de rua animam a cidade durante três meses
inteiros!
A colaboração entre a Grande
Vitória e a aglomeração urbana de Dunkerque foi firmada em 2005. Além de
trabalhar juntas sobre políticas de reabilitação de áreas centrais degradadas, as
duas cidades gêmeas têm acordos de cooperação nas áreas de desenvolvimento
portuário, intercâmbios universitários e cultura. O sucesso dessa parceria se
deve, em boa parte, a uma francesinha, funcionária publica no departamento das
Relações Internacionais da Communauté Urbaine de Dunkerque. Pauline Dubois tem
27 anos e é totalmente fluente em português. Ela nasceu em Dunkerque, com
carnaval na mamadeira! Foi criada também em Vitória, onde passou a adolescência
nas praias capixabas arrasando na sua prancha de windsurfe. Ela estudou no Rio
e trabalhou na Prefeitura de Vitória e contou pra nós como surgiu o enredo da
MUG no Carnaval capixaba 2013.
Pauline, como você
recebeu a notícia da vitória da Mocidade
Unida da Glória?
Eu estava na apuração com a direção da MOCIDADE
UNIDA DE GLÓRIA e o presidente Robertinho. Foi um momento muito especial tanto no
nível pessoal como no nível profissional. O projeto de intercâmbio saiu da
minha cabeça, então devo admitir que estava muito ansiosa. O projeto era muito
ousado, tanto para a parte brasileira como para a parte francesa.
Robertinho e Pauline no momento da vitoria
Quando o
samba entrou em sua vida e como começou a sua trajetória com a MUG?
Eu conheço o Brasil e Vitoria desde pequena porque
meus pais têm amigos aqui. O Brasil entrou na minha vida pela família. O samba
entrou quando eu era estudante da PUC RIO. Tive a oportunidade de fazer amigos
no Rio de Janeiro e fui “entronizada” na escola carioca do SALGUEIRO já tem
quase 10 anos! O percurso em Vitória foi diferente, após o show “BATUKE MUSIKE”
na Rua da Lama, em 2009, laços de amizade se formaram com os músicos, entre
eles Glaydson SANTOS que foi também o produtor do CD do Carnaval de Vitória. Eu
fui apresentada ao carnavalesco Petterson Loiz por ele e cheguei a desfilar
pela MUG o ano do Enredo sobre a história da cerveja.
Como surgiu o enredo sobre
Dunkerque? Como a cidade de Dunkerque inspirou a criação do projeto?
Após meu primeiro desfile na MUG, continuei a trocar ideias com Petterson Loiz e Slin Ribeiro, diretor da Harmonia e filho do Presidente Robertinho da MUG. A ideia de trabalhar sobre Dunkerque foi o resultado de um momento agradável que Petterson Alves, Slin Ribeiro e eu passamos num boteco após um longo dia de trabalho! No inicio foi mais uma conversa por alto, nada sério! Mas finalmente, a ousadia do Slin e do Petterson nos levou a realizar esse desafio!
O inicio do projeto em Dunkerque com Slin Ribeiro e Petterson Alves
Qual foi a contribuição dos franceses para a realização do projeto? Foi dado suporte financeiro à MUG?
Nenhum suporte financeiro foi dado à MUG. Quando a diretoria da escola veio a Dunkerque pela primeira vez, ela até arcou com suas despesas! De qualquer forma, a lei na França não nos permite fazer este tipo de transação e num tempo de crise como agora, jamais nenhum político local teria aceitado conceder apoio financeiro nesse caso. O que decidimos foi financiar o intercâmbio cultural. Convidamos o carnavalesco para passar um mês em Dunkerque para preparar o enredo, convidamos dois passistas da MUG para dar aulas em Dunkerque, fomos uma vez a Vitoria com o casal de mestre-sala e porta-bandeira e a coreógrafa para um treinamento especial. E, finalmente, enviamos 15 bailarinos para compor o desfile da MUG. Fico até constrangida das pessoas poderem imaginar que “compramos” o carnaval! Hoje só quem está no coração do projeto sabe o “sufoco financeiro” que a MUG esta passando. Dunkerque não pagou nada, apenas ofereceu sua história e alguns dos seus profissionais e cidadãos!
Com quem
você trabalhou na França e no Brasil? Como
surgiram as ideias para os carros alegóricos,
as fantasias e as alas?
Trabalhamos
com os historiadores de Dunkerque e os museus. Muitos franceses trabalharam nos
bastidores para ajudar o Carnavalesco a fazer o enredo sair do papel. O roteiro
do desfile foi construído na França, era uma obrigação para respeitar a
trajetória da cidade. Todas as ideias artísticas saíram da cabeça do Petterson,
ele é um grande artista. Ele é inovador e tenho certeza que será um dos grandes
carnavalescos do Rio ou de São Paulo nos próximos anos! Queria fazer homenagem
ao Petterson porque ele passou apenas um mês em Dunkerque e se apropriou nossa
história!
Quais foram os principais desafios na
criação do projeto cenográfico para um dos maiores carnavais do país?
Acho que a parte mais complicada é a da captação.
Fiquei muito decepcionada com a recepção das empresas. A MUG é uma escola
limpa, uma escola que inclusive trabalha com a Lei Rouanet de incentivo
cultural. E mesmo assim, as empresas de maneira geral são frias e distantes! Imaginava
que a captação seria mais simples e que os empresários locais se empolgariam mais
com a qualidade do carnaval capixaba! Acho que ainda precisa desmistificar uns
clichês sobre o trabalho das escolas. Nessa altura, é o financiamento de todas
as escolas que me preocupa porque elas não têm meios suficientes para fazer o
carnaval crescer mais! E para ter espetáculo grande e concorrência, elas
precisam ser apoiadas.
Fico também preocupada com a ausência em Vitória de
uma cidade do samba. Conheço bem o Rio e acho que a cidade do samba mudou o
trabalho das escolas e ajudou a dar ainda mais qualidade às alegorias e às
fantasias. Quando vi as alegorias saírem de Vila Velha empurradas e rodar 12 km
para chegar ao Sambão do Povo, entendi melhor os pedidos dos Presidentes das
escolas capixabas.
Fora esses dois itens, acho que o mais complicado
foi enquadrar um pouco o trabalho artístico do carnavalesco em termo de
cronologia e história. Ele teve carta branca, mas dentro de um esboço coescrito.
Era muito importante para nós transcrever Dunkerque como os moradores a veem e
que todo mundo entendesse o enredo.
Qual foi
o seu papel no desfile da MUG no Sambão do Povo?
Fiz parte da Diretoria da escola. Tive sob minha responsabilidade todos
os franceses que desfilaram. E ajudar também na harmonia e evolução dos
franceses na avenida.
Fotos do franceses no desfile:
Sua paixão pelo Carnaval vem desde
pequena? O que você acha do carnaval capixaba?
Fui
criada na tradição carnavalesca de Dunkerque então, essa paixão pelo carnaval
de escola de samba é somente a continuação internacional do que me compõe. Adoro
o carnaval capixaba, adoro ver como esse carnaval cresce a cada ano. O Carnaval
capixaba ainda é muito acessível, é fácil desfilar, é fácil se sentir à vontade
no Sambão do Povo, acho que será um dia o segundo após o do Rio de Janeiro até
porque ele acontece uma semana antes e abre a temporada.
Você tem um novo projeto
franco-brasileiro para os próximos anos? Já pensou em ser Carnavalesca?
Olhaaaa que ideia boa,
claro que adoraria ser carnavalesca, hoje conheço bem o processo de criação do
carnaval porque acompanhei o passo a passo com o Petterson. Mas, para ser
carnavalesca: precisa desenhar, precisa conhecer texturas e materiais, precisa
muita experiência, e eu não tenho isso! Portanto, deixo a vaga! Antes de
qualquer coisa, sou funcionária publica, gosto de desafios: o carnaval foi um e
tenho outros pela frente! Os jogos olímpicos do Rio estão chegando, eles são
meu novo desafio!
O desfile da MUG:
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