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Muitos de vocês nos seguiram no blog
e assinaram a petição online. Essa mobilização pelos índios Guarani-Kaiowá foi
enorme no Brasil, com muitos eventos, mas também no exterior.
A
mídia fala pouco, escandalosamente pouco, sobre a luta dos índios. Não é fácil
buscar informação correta. O silêncio sobre a luta dos índios e sobre o
abuso dos fazendeiros fala muito sobre a indiferença da mídia e da
classe política E, no entanto, em 18 cidades foram agendados atos de
solidariedade, entre os dias 27 de outubro e 9 de novembro.
Essa mobilização foi um sucesso, uma vez que o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, suspendeu operação de retirada dos índios Guarani-Kaiowás do acampamento Pyelito Kue, atendendo a pedido da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
Os 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças da tribo
Guarani-Kaiowá poderão ficar na fazenda Cambará no Iguatemi-MS. Confinados em uma
área de 2 hectares (equivalente a dois campos de futebol).
É só uma solução temporária. A decisão
deverá vigorar até a identificação e demarcação final do território
indígena pela FUNAI. A solução também é precária, uma vez que relações com
o proprietário continuam tensas e perigosas. Na quarta-feira 24 de outubro, uma indígena
de Pyelito Kue foi abusada sexualmente por oito homens em uma fazenda, conforme
denunciaram os indígenas.
O
procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida disse: “a mobilização
das redes sociais foi definitiva para alcançar esse resultado. Provocou uma
reação raramente vista por parte do governo quando se trata de direitos
indígenas”.
Na
verdade, a situação dos Guarani-Kaiowás em Pyelito Kue se tornou assunto
em todo o país quando os índios divulgaram uma carta no dia 8 de outubro para o
Governo e a Justiça brasileira:
"A
quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?? Para
qual Justiça do Brasil?? Se a própria Justiça Federal está gerando e
alimentando violências contra nós. (...). De fato, sabemos muito bem que no
centro desse nosso território antigo estão enterrados vários dos nossos avôs e
avós, bisavôs e bisavós, ali está o cemitério de todos os nossos antepassados.
Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados
junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos
ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas
solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos
aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção
total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e
enterrar os nossos corpos."
Os
Guarani-Kaiowás de Pyelito Kue refugiaram-se na fazenda Cambará reserva em
Novembro de 2011, depois de ter sofrido ataques armados, quando acamparam
no outro lado do rio. Crianças e idosos ficaram feridos e o acampamento foi
destruído.
Mas, para os lideres, a situação jurídica do local segue em impasse.
Mas, para os lideres, a situação jurídica do local segue em impasse.
Líderes Guarani-Kaiowá, denunciando
o genocídio impetrado à etnia, comemoraram os anúncios, mas avaliaram que só a
demarcação das terras cessará o conflito entre índios e produtores rurais da
região. “Estou feliz, mas feliz pela metade. Há várias outras aldeias vivendo
este mesmo drama. Vocês não imaginam o que a gente sofre lá na realidade. Há
pessoas desaparecidas cujos corpos nunca foram encontrados”, afirmou o líder
Otoniel Ricardo, com lágrimas escorrendo pela face.
Eles
procuram aumentar a rede de solidariedade aos Guarani-Kaiowás. A luta não
é somente contra os despejos, mas pela demarcação definitiva das terras
indígenas. “A cana que hoje está sendo plantada lá e colhida como etanol já é
misturada com sangue indígena Guarani Kaiowá”, disse o cacique. O peso do
agronegócio na região teve uma guinada após acordo do ex-presidente brasileiro
Lula com ex-presidente dos Estados Unidos George Bush sobre a produção de
biocombustíveis.
Nota
técnica da FUNAI publicada em março de 2012 concluiu que o
território reivindicado pelos indígenas como Pyelito Kue e Mbarakay é ocupado
desde tempos ancestrais pelas etnias guarani e kaiowá. Desde o ano de 1915,
quando foi instituída a primeira Terra Indígena. Nos anos 70 e 80,
começou a expulsão dos índios em favor de proprietários de terras agrícolas
(principalmente para aumentar a produção de cana ou de soja), além do confinamento
e regrupamento de diferentes grupos étnicos, resultando em insegurança e
desenraizamento cultural e social.
Desenraizamento
e perda de referências culturais resultaram em ondas de suicídios (555 entre
2000 e 2011), especialmente entre os jovens. A situação cultural e social dos
jovens indianos também é muito preocupante.
No
estado de Mato Grosso do Sul, 43.000 índios Guarani-Kaiowás exigem um
retorno em suas terras originais que eles chamam de "tekoha".
Literalmente "o lugar onde é possível viver nosso caminho.” Eles querem
deixar a reserva e instalar acampamentos, que são na sua maioria legal.
Existem hoje mais de 30 acampamentos Guarani-Kaiowá
confinados em estradas ou dentro de fazendas em áreas que os índios ocuparam.
Adicione a isso mais de 20 áreas que foram recuperadas e regularizadas após
forte pressão dos nativos que perderam vários líderes comunitários na
luta. Segundo a liderança dos índios, existem 49 aldeias prontas para
serem reconhecidas como terra indígena, mas foram embargadas pelo Supremo
Tribunal Federal.
No
entanto, todas essas áreas são muito limitadas. Apenas o território de
Panambizinho, única área aprovada pelo governo Lula que não foi cancelada pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), tem 1.200 hectares.
Sementes de Sonhos VOSTFR from Noé V on Vimeo.
O Ministério Público Federal, instituição federal independente com intenção de representar os interesses dos cidadãos e das comunidades em processo penal (o quarto poder do Brasil) disse: “afastar a discussão da ocupação tradicional da área em litígio equivale a perpetuar flagrante injustiça cometida contra os indígenas em três fases distintas e sucessivas no tempo. Uma quando se lhes usurpam as terras; outra quando o Estado não providencia, ou demora fazê-lo, ou faz de forma deficiente a revisão dos limites de sua área e quando o Estado-Juiz lhes impede de invocar e demonstrar seu direito ancestral sobre as terras, valendo-se justamente da inércia do próprio Estado”.
Vale
lembrar que o número de usuários do internet, incluindo Facebook, que substituíram
seus nomes pelo nome Guarani-Kaiowá foi enorme. Isso tocou os índios, que
mandaram agradecimentos através do grupo do Facebook "Suicide collectif" Facebook soutien au Guarani-kaiowá (tradução
do francês):
"Nós, Guarani Kaiowá e os sobreviventes que
realmente querem sobreviver, desejamos com esta mensagem simples expressar publicamente
nossa imensa gratidão a todas e todos que acrescentaram Guarani-Kaiowá a seus
nomes.
Como todos sabem, os Guarani e Kaiowá, sozinhos, podem ser exterminados, mas estamos confiantes de que, com a real solidariedade humana e o apoio de todos vocês, podemos ser salvos de várias formas de violência contra nossas vidas e, especialmente, evitar a extinção do nosso povo.
Graças a esse seu gesto de amor pela nossa vida, sentimos um pouco de paz e esperança em uma verdadeira justiça. Entendemos que há cidadãs e cidadãos movidos por um genuíno amor ao próximo, que têm sede de justiça e exigem esta justiça. Não temos palavras para agradecer a todos. Só dizemos JAVY'A PORÃ, a paz esteja em seus corações .
Muito obrigados.”
Como todos sabem, os Guarani e Kaiowá, sozinhos, podem ser exterminados, mas estamos confiantes de que, com a real solidariedade humana e o apoio de todos vocês, podemos ser salvos de várias formas de violência contra nossas vidas e, especialmente, evitar a extinção do nosso povo.
Graças a esse seu gesto de amor pela nossa vida, sentimos um pouco de paz e esperança em uma verdadeira justiça. Entendemos que há cidadãs e cidadãos movidos por um genuíno amor ao próximo, que têm sede de justiça e exigem esta justiça. Não temos palavras para agradecer a todos. Só dizemos JAVY'A PORÃ, a paz esteja em seus corações .
Muito obrigados.”
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