jeudi 1 novembre 2012

Passeio urbano e artistico na Ilha das Caieiras com Gabriel Ramos, arquiteto e poeta

foto Gabriel Ramos

Hoje, vamos conhecer meu amigo Gabriel Teixeira Ramos, 24 anos. Gabriel é estudante de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, escritor, produtor e artista multimídia. Eu conheci Gabriel já faz três anos, em outubro 2009, quando participamos dos Ateliês Internacionais de Urbanismo em Vitória. Ele acabou de publicar o seu primeiro livro de poesia: longevo quando.




Eu acho que o Gabriel, com todas essas qualidades e competências, poderia, daqui a pouco, se tornar uma pessoa influente de Vitória, iniciando tendências e movimentos culturais. Inspirado em tendências urbanas de outros lugares do mundo, ele tem uma visão interessante da cultura como acelerador do progresso urbano e social.

Ele está participando de muitos projetos urbanos, sociais e artísticos, sempre com muito profissionalismo, criatividade e gentileza par os outros.



Gabriel entrou pelo caminho das artes e da produção no início da faculdade, em 2007, por já ser escritor desde antes. Ele fala: “Sempre gostei de executar coisas e atividades e buscar interagir com pessoas. O arquiteto, antes de mais nada, precisa ser um agenciador e articulador de pessoas.”



Gabriel escolheu um lugar para essa entrevista: a Ilha das Caieiras, em Vitória. Eu descobri esse lugar há três anos, e fiquei encantada com a paisagem, a vista e a atmosfera popular. Tomei um cerveja gelada, com uma vista espetacular da baía de Vitória, do mangue e do Mestre Álvaro.
Eu também acho este lugar representativo da região metropolitana de Vitória, que merece ser descoberta.








Olá, Gabriel. Por que você escolheu esse lugar?
Olá! Pois bem. Escolhi este lugar pois detém uma beleza estonteante, uma rica e peculiar história e, claro, tensões políticas eminentes.
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Por que você o considera representativo?
É representativo porque possui significados diversos para os usuários e os moradores da região. Um lugar onde antes funcionava um aterro sanitário, em que pessoas sobreviviam por causa do lixo, hoje ser conhecido principalmente por meio de sua culinária típica (moqueca e torta capixaba) é de se acreditar que alguma coisa mudou neste percurso.

O que costuma acontecer aqui?
O lugar, durante seu período normal, apresenta-se como um importante bairro e um belo local de encontro da região da Grande São Pedro. Uma vila com pescadores, moradores, artistas e diversos grupos de ativistas. Contudo, durante finais de semana e, principalmente, em época do feriado da Semana Santa, ele se transforma, com muitos visitantes querendo experimentar a comida típica da culinária capixaba. Nota-se aqui, portanto, uma séria discussão acerca da identidade capixaba. Além de outros pontos turísticos, neste local, ela vem sido construída há quase 30 anos, sendo, portanto, um produto de forte apelo turístico, fazendo com que o lugar tenha sofrido uma forte produção hegemônica; um espaço fortemente vendável turisticamente. 

Esse lugar tem que ser divulgado ou é “secreto”?
Ele já é fortemente divulgado. Tanto pelo governo e mídia quanto pelos usuários da região. O que precisa ser repensada é a forma de se interagir com esse lugar, de modo que o usuário possa, por seus próprios critérios e escolhas, conhecer o local, se permitir experimentá-lo de maneira legítima e não “induzida” por esses mecanismos de divulgação.

Gabriel, você é arquiteto-urbanista e artista. O que Vitória te inspira?
Vitória me inspira a possibilidade do pequeno ser grande. É uma cidade de pequeno porte, em que todos conhecem todos e, justamente por isso, pode ser muito mais. Credito na cidade a possibilidade de ser coletiva e acessível, planejada e pensada por todos aqueles que se sintam aptos.

Para você, quais são as relações entre a Cidade e a Arte?
As relações são muitas e incontáveis. Contudo, tenho estudado um pequeno recorte no que se diz respeito aos espaços públicos contemporâneos e sua possibilidade de recriação. Ou seja, a demanda hoje é diferente de décadas atrás, em que espaços públicos tradicionais, como a praça, o parque e as calçadas, tinham funções pré-determinadas. Hoje é fundamental que o programa se remodele de acordo com o contexto e mude, assim, sua arquitetura. É neste ponto que entra a arte como ponto de contextualização e conexão da arquitetura e as pessoas que usufruem daquele espaço.

Em que a Cidade, além de ser uma inspiração, pode ser um suporte da criação artística?
Como falei acima, a criação artística pode engendrar possibilidades inimagináveis de concepção de espaços públicos e possibilidades.
Temos diversos exemplos neste próprio ano, com os “Ocupas”, tanto politicamente quanto artisticamente. Recentemente, estive na cidade de Belo Horizonte, e presenciei uma concepção de espaços criativos no Cidade Eletronika e, semana passada, pudemos observar pela internet o #ExisteAmorEmSP.

Fundamentalmente, são movimentos políticos, porém suprapartidários, artísticos, extremamente atrelados à internet e ricos de subjetividade.

Gabriel, você iniciou diversos projetos artísticos de intervenção no espaço público, que você realiza com associações de moradores. Como isso acontece? Qual é o objetivo procurado?
Iniciei junto ao Coletivo Permear ações no bairro Eurico Salles, no município da Serra, aqui no Espírito Santo. São atividades em que se busca reativar o potencial artístico e de pertencimento do lugar em espaços pouco utilizados. Neste contexto, tínhamos um calçadão/praça criado e de pouco uso. 

Frutificai-vos

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fotos do Projeto Permear

Em que um projeto artístico faz evoluir o olhar que um morador tem sobre seu bairro ou sua cidade?
Acredito que todo projeto artístico em que há o olhar de carinho e de vontade de transformação de um lugar, o olhar se transforma e o trabalho se torna legítimo. Evoluir acho um pouco demais (risos).
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Isso fez evoluir sua percepção de arquiteto-urbanista? Você pensa que isso vai fazer evoluir sua maneira de trabalhar?
Isso faz eu acreditar que o arquiteto e urbanista, especialmente que intervém no processo de construção das cidades, ele precisa ser, necessariamente, um ativista urbano e articulador de pessoas. Como diz a Suely Rolnik, “todas as entradas são válidas, desde que as saídas sejam múltiplas”. O arquiteto precisa ser múltiplo.

Quais são, para você, os maiores desafios urbanos de Vitória? Qual seria, a seu ver, o método certo de abordá-los?
A cidade de Vitória hoje precisa ser atualizada. Por ter o comércio exterior como sua principal atividade econômica, sofrerá diretamente com a crise europeia. Portanto, é preciso que a Prefeitura articule meios de reinventar as possibilidades da cidade e, fundamentalmente, fazer isso da maneira menos agressiva possível aos usuários da cidade. E aí cabe o arquiteto-ativista urbano como um chamador de multidões.

Precisamos melhorar os acessos à cidade, facilitar a mobilidade urbana, não transformando a cidade num corredor de ônibus (ciclovia é uma prioridade, mas só funciona atrelada a um transporte de massa, como o ônibus ou metrô). Vitória é uma cidade pequena; a escala é reduzida. É preciso que se aja com o microplanejamento, ativando práticas criativas de se viver na cidade.

Você também é poeta e publicou uma primeira coletânea de poemas. Em que a cidade, ou as cidades, te inspiram?
A cidade me instiga à poesia sim. Especialmente quando podemos ter a prática do encontro com o outro, desacelerando um pouco nosso ritmo e imprimindo uma vontade de sermos nós mesmos.

Enfim, Gabriel, qual é a cidade que mais te marcou e por que você nos aconselha a visitá-la?
Gosto muito de Vitória, acho uma cidade exuberante, e também de porte suficiente para o relacionamento saudável das pessoas. Gosto de Belo Horizonte, pelas pessoas e pelo modo como elas utilizam seus espaços públicos. Outras cidades me encantam, seja bela exuberância, como o Rio de Janeiro ou Florianópolis.

Fotos e/ou links para páginas da internet.
Cidade Eletronika: http://cidadeeletronika.com.br
Gabriel Ramos: http://gabrieltramos.com

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