Texto escrito por Sara Moreira em Global Voices. Tradução em francês por Emmanuelle Leroy Cerqueira
Um dos temas centrais que vai ser abordado na hackathon regional Desenvolvendo a América Latina nos dias 1 e 2 de dezembro de 2012, é o saneamento, e existe um projeto no Brasil cujo trabalho pode servir de inspiração para o desenvolvimento de novas plataformas.
A iniciativa Saneamento é Básico parte da organização sem fins lucrativos Meu Rio dedicada à participação cívica através da tecnologia. Segundo a organização, “o Rio de Janeiro ainda tem metade da sua população sem rede de água e esgoto”, contabilizando quase 3 milhões de cidadãos que são “[obrigados] a beber água suja ou jogar esgoto diretamente em rios, lagoas e praias da cidade maravilhosa”.
O Meu Rio lançou uma petição online acompanhada pelo vídeo “Eu quero 100% de #saneamentoparaorio“, no qual são apresentados problemas do dia a dia com os quais os cariocas convivem:
Eu quero 100% de #saneamentoparaorio! from Meu Rio on Vimeo.
Panela de pressão
Uma das plataformas do Meu Rio, a Panela de Pressão, tem possibilitado a qualquer cidadão ou movimento social a criação das suas próprias campanhas de pressão popular, como explica o website:
"A receita é simples: você aponta um problema, convoca outras pessoas que desejam a mesma mudança e pressiona diretamente políticos, empresários e administradores públicos, por email, Twitter ou Facebook."Campanhas relacionadas com problemas de saneamento no Rio de Janeiro não têm sido excepção. Uma delas expõe o problema do derramamento de esgoto na Praia de São Conrado. A campanha, lançada pelo movimento Salvemos São Conrado (que também conta com um blog próprio e página no Facebook com mais de 2.500 seguidores), aponta para uma análise da qualidade da água das praias do Rio, feita pelo INEA (Instituto Estadual do Ambiente), e indica:
"O Secretário Estadual do Ambiente, Sr. Carlos Minc criou a Lei 2661/96 de 27 de dezembro de 1996 que exige níveis mínimos de tratamento de esgotos sanitários, antes de seu lançamento em corpos d'água, de modo que não ofereça riscos à saúde humana e ao meio ambiente, porém o mesmo permite tal afronto por parte destas instituições e compactua com o descaso ao carioca e ao meio ambiente."Apesar da promessa da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de despoluição da praia, Salvemos São Conrado descreve a situação atual de forma preocupante:
Campanha “Salvemos São Conrado” |
"Temos várias linguas negras que invadem nossas areias em períodos de chuva, porém o que é mais revoltante é o despejo proposital de todo o esgoto produzido na [favela da] Rocinha (…) desde à época do governo Garotinho. (…) No mesmo período foi criada uma estação de tratamento que deveria tratar esse esgoto antes de chegar à praia, porém a “Rio Águas” que é responsável pela estação, não faz o seu trabalho e despeja todo o esgoto “in natura” através desta galeria."Através da Panela de Pressão já foram enviadas 141 mensagens diretas exigindo “acesso ao projeto técnico completo previsto para a despoluição da Praia de São Conrado, e [a garantia de] que as obras comecem imediatamente” aos respetivos responsáveis: o Presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), Wagner Victer, o Secretário Municipal de Meio Ambiente Carlos, Alberto Muniz, o Secretário Estadual do Ambiente, Carlos Minc, e a Fundação Instituto das Águas do Município do Rio de Janeiro, Rio Águas.
Outro caso ligado reportado no site pelo jornalista Guilherme Ramalho, é o da Poluição na Baía de Guanabara:
Campanha “Poluição na Baía de Guanabara, nunca mais!” na Panela de Pressão |
"Queremos que a Secretaria Estadual de Meio Ambiente divulgue um cronograma com metas anuais do PSAM para que a população, as universidades e a mídia possam fiscalizar e garantir o sucesso dessa despoluição."
Campanha “Não queremos aumento da tarifa da água!” criada por Nalva Pinheiro, moradora do bairro do Colégio |
"É um abuso ter que pagar um preço ainda maior de um dia pro outro, sendo que o serviço é péssimo. As contas vêm erradas, eles cortam a nossa água sem explicação, muitas vezes a água vem suja, e é muito difícil falar com eles no telefone para corrigir os problemas. Somos mal-tratados toda vez que tentamos. Sem falar que muita gente recebe conta sem ter água chegando em casa, e tem que pagar o preço pra não ficar com nome sujo."Quase 2.200 mensagens foram enviadas à Ouvidoria a ao Presidente da CEDAE, mas, segundo o texto da petição mencionada acima, este respondeu que “não vai rever o aumento pois existe um decreto assinado há 12 anos que diz que a CEDAE pode aumentar a tarifa de água sem passar pelo crivo de uma agência que garanta a qualidade do serviço e a necessidade de reajuste do preço”.
A petição lançada pelo Meu Rio cita a campanha desta cidadã carioca e dirige-se ao Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, exigindo a revogação do decreto 25.997/200 [pdf] que confere poderes ao Presidente da CEDAE considerados pela organização abusivos.
Escrito por Sara Moreira
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